domingo, fevereiro 28, 2010

Angola anima indústria brasileira

Valor Econômico 02/04/2009
Quase uma centena de empresários não desgrudava os olhos de uma apresentação sobre Angola ontem em São Paulo. Funcionários do governo explicaram o posicionamento dos concorrentes e as oportunidades para o Brasil. Na terça-feira, a cena foi a mesma em Florianópolis com 75 empresários. Hoje é a vez de Recife.

Qual é a explicação para o interesse por um mercado na África, que reúne apenas 16 milhões de pessoas? A resposta é simples: o ritmo das vendas brasileiras para Angola, por enquanto, resiste à crise - um milagre em meio à queda de 30% nas exportações de manufaturados no primeiro trimestre.

Um levantamento da Agência de Promoção de Exportações (Apex) apontou que as exportações para Angola cresceram 54% entre outubro de 2008, quando a crise começou, e fevereiro de 2009. O ritmo foi o mesmo de outubro de 2007 a fevereiro de 2008. Em ambos os casos, a comparação é com igual período um ano antes.

Em outros mercados, maiores e mais importantes para o Brasil, o cenário é bem mais complicado. Para a Argentina, as exportações caíram 23% entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009 com relação aos 12 meses anteriores, contra alta de 39% entre outubro de 2007 e fevereiro de 2008.

"Angola é uma grande oportunidade, porque as exportações ainda não sentiram os efeito da crise", disse Adalberto Schiehll, coordenador de projeto da Apex, que pretende reunir 55 empresas para expor em uma feira em Luanda, capital de Angola, em julho. Ele frisa o "ainda", porque o país perdeu poder de compra com a queda dos preços do petróleo, que responde por 90% de suas exportações.

Em meio a reconstrução com o fim da guerra civil em 2002, a economia de Angola cresceu 16% no ano passado. O Brasil é o quarto maior fornecedor do país, que importa quase tudo que consome. Segundo Ulisses Pimentel, analista da Apex, alguns fatores beneficiaram os produtos brasileiros: a presença de construtoras como Odebrecht e Camargo Correa, boas relações políticas, o mesmo idioma e até o sucesso das novelas.

"A demanda é tão grande que, se vencermos uma concorrência, vai valer a pena", disse Arlete Canassa, gerente de exportação da Cadioli, que produz ferramentas manuais e implementos para a agricultura familiar. Ela visitou o país no fim de 2008 e participou de licitações, mas perdeu para os chineses. "Com a desvalorização do dólar, temos mais chances esse ano".

Jaime Weiss, gerente de exportação da Quimis, que vende aparelhos científicos como balanças e medidores, também quer incrementar as vendas para Angola. Ele relata que ainda é um mercado difícil, por conta da logística pouco desenvolvida e do alto custo de diárias de hotéis e outras despesas.

Mais de 80% das vendas brasileiras para Angola são produtos manufaturados, com destaque para veículos, tratores e autopeças, que respondem por 20% das vendas brasileiras, e máquinas e motores, com outros 15%. Pimentel, da Apex, explica que pode ser mais fácil para os brasileiros ganhar espaço em Angola porque seus produtos já são conhecidos, mas ainda não estão consolidados.

É o caso de calçados ou cerâmica. O Brasil responde por 14% das importações de calçados de Angola, mas enquanto a concorrência elevou em 40% as vendas em média por ano entre 2002 e 2007, o país exportou 62% mais. Em cerâmica, a fatia do Brasil é de 16%, mas suas vendas subiram 80% no período, contra 34% da concorrência.

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