domingo, fevereiro 28, 2010

Totvs em Angola


Valor Econômico 03/09/2009

Para competir com os dragões chineses que invadem mercado internacional com produtos de alta tecnologia, empresários brasileiros avaliam que o governo deveria criar políticas de desenvolvimento para setores estratégicos. Laércio Cosentino, presidente da Totvs, e Thiago de Oliveira, diretor de Relações com Investidores da Lupatech, dizem que nas últimas décadas não foi criado um projeto de longo prazo para o país e para a indústria nacional. Segundo eles, os governos mais recentes tiveram apenas foco em políticas de curto prazo.

Os empresários, que participaram do seminário "Reposicionamentos Estratégicos, Políticas e Inovação em Tempos de Crise", organizado pelo Instituto de Economia da UFRJ, lembram que a China tem estruturado e implementado políticas econômicas e sociais de desenvolvimento e o governo brasileiro deveria ter atitude semelhante. Segundo Consentino, esta não é apenas estratégia da China, mas também da Índia. "O país tem um plano de governo para colocar a indústria indiana de software como primeira no mundo e está fazendo tudo para conseguir."

Sem definição de políticas industriais de desenvolvimento nas últimas décadas, os empresários alegam que houve um descolamento das empresas e do mercado financeiro da política nacional. "No passado, escândalos como os atuais , fariam a economia tremer e as bolsas despencarem. Hoje, não há qualquer influência", diz Consentino referindo-se à crise no Senado e o imbróglio envolvendo a Receita. Oliveira lembra que órgãos como Finep ou Embrapa ainda tiveram papel importante para setores como o de tecnologia e agrícola, mas agiram independentemente de uma política nacional.

No cenário atual, as empresas procuram seus caminhos para se defender e manter posições nos mercados internacionais, apesar da crescente invasão chinesa. Investir em produtos customizados, no cliente e em suas necessidades é a principal estratégia. WEG, Totvs e Lupatech têm estratégias semelhantes: investir em desenvolvimento para inovar em tecnologia e fazer com que a produção seja focada nas necessidades dos clientes, para evitar que sejam simples commodities.

Totvs e Lupatech vêm comprando empresas menores para adquirir tecnologia e know-how em setores que acham importantes. Cosentino conta que a Totvs comprou 21 empresas de 2003 a 2008. A Lupatech fez 15 aquisições em três anos, diz Oliveira.

Consentino explica que o objetivo da Totvs é crescer de dentro do país para fora. Hoje, sua companhia é líder no Brasil e segunda na América Latina. Agora, o objetivo é atingir os países de língua portuguesa no mundo - já está presente em Portugal e Angola. Segundo ele, para chegar lá, transformou uma empresa de software em uma empresa de tecnologia, consultoria, de serviços de valor agregado e também de software. "Estamos nos transformando numa empresa de nível global e, para isso, é preciso personalizar o atendimento, conhecer a necessidade do cliente onde ele estiver", afirma.

A Lupatech ainda não se internacionalizou. A empresa quer chegar ao mercado externo a partir da plantas locais, até que tenha escala para competir lá fora de igual para igual. Como seu mercado é de petróleo e gás, a empresa está focada principalmente no mercado nacional. Segundo Oliveira, em 2008 a Lupatech se posicionou para aproveitar o crescimento da exploração do petróleo no Brasil e apostou em capitalização e desenvolvimento. Como a oferta aqui será muito grande, a empresa quer atender a esta demanda, que também será atacada pelos chineses.

Na WEG, a internacionalização começou nos anos 80, quando passou a exportar para mais de cem países, através de distribuidores locais. A partir de 1989, abriu subsidiárias comerciais em vários países - EUA, Chile, Venezuela, França, Japão e Rússia. Desde 1998, inaugurou unidades de produção no México, em Portugal, na Argentina e na China, através de aquisição de pequenas empresas.

O objetivo da WEG na China é marcar presença. "O país é um grande desafio e aprendizado. Estamos pagando mensalidade para participar do clube", conta Décio da Silva, presidente da empresa. O faturamento anual da companhia na China, este ano, deve chegar a US$ 20 milhões. A empresa exporta para países vizinhos, mas o foco é ampliar os negócios na China.

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