domingo, fevereiro 28, 2010

Fábrica de casas em Angôla atrai herdeiro da Gerdau


Valor Econômico 28/08/2009

Carlos Gerdau, primogênito de Jorge Gerdau e um dos 16 herdeiros da terceira geração do tradicional sobrenome gaúcho, escolheu o ramo imobiliário popular para estrear no papel de empresário há seis anos. Avançou pouco. Agora, deu um passo mais ousado: associou-se a uma fábrica de casas. Sua empresa, a Domus Populi - "casas para o povo", em latim - adquiriu 50% da Brasitherm, que industrializa a produção de casas ao fabricar paredes de concreto e as levar prontas para o canteiro de obras.

Gerdau não revela o valor do negócio. A Brasitherm tem uma fábrica em Cotia e pretende abrir mais três, todas em São Paulo, antes de investir em outros estados. A próxima, que terá capacidade para produzir mil casas já este ano, ficará em Atibaia. O investimento em cada unidade fabril, com capacidade de produção de duas mil unidades ao ano, é estimado em cerca de R$ 4 milhões. "Nossa intenção é ter fábricas próprias e associações com terceiros", afirma Gerdau.

As parcerias já começam a ser prospectadas e poderão ser feitas com construtoras interessadas em grandes projetos - com a construção de uma unidade perto ou dentro da obra. "Estamos conversando com várias empresas do setor", diz Gerdau. "Estimo uma demanda por 50 mil unidades."

O objetivo é aproveitar a demanda das incorporadoras por novas tecnologias e modelos industrializados de construção, que permitam produção em larga escala e em alta velocidade. Segundo Michel Zeenni, da Brasitherm, por esse sistema, uma casa pode ficar completamente pronta em 18 dias, sendo que a montagem da estrutura pode ser feita em um dia. Atualmente, empresas do setor trabalham com o sistema pré-moldado, no qual as formas (de alumínio ou PVC) são preenchidas de concreto no próprio canteiro e ficam prontas em menos de 30 dias.

A logística, a princípio, é um dos limitantes do modelo. Gerdau diz, porém, que o custo se mantém competitivo a um raio de 300 a 500 quilômetros de distância da fábrica. A escala é fundamental para garantir a eficiência desses novos modelos construtivos. "Em bases comparativas semelhantes, o custo é cerca de 10% mais barato que a alvenaria tradicional", afirma. O sistema foi aprovado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) no fim do ano passado e está em processo de análise na Caixa Econômica Federal. "O controle de qualidade da produção na fábrica é maior", emenda Zeenni.

O empurrão do plano habitacional do governo foi providencial não apenas para essa parceria, como também para engrenar o seu primeiro negócio, a Domus Populi. A empresa avançou pouco nesses seis anos. Fez apenas cerca de 500 unidades no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. "A estruturação financeira era uma barreira para entrar na baixa renda, era quase impossível realizar projetos populares, a conta não fechava", diz.

A saída foi partir para outros mercados. Fez uma parceria local e lançou um empreendimento em Angola, onde está construindo 200 unidades, de um projeto com 660 casas. A primeira parceria com a Brasitherm aconteceu no projeto de Angola. O país serviu como teste da tecnologia das paredes de concreto prontas e sedimentou a associação entre as empresas.

Com 50% da Brasitherm, o herdeiro de um dos maiores conglomerados brasileiros pretende conseguir custo e escala para entrar nas faixas mais carentes. "Tenho convicção de que somos competitivos nas faixas de renda de três a seis salários mínimos e de três a dez, o grande desafio é conseguir atender o segmento de até três salários mínimos", afirma. Com a maior parte dos subsídios da União e apesar da enorme demanda de inscrições nas prefeituras, a faixa de zero a três salários tem encontrado dificuldades para sair do papel pelo custo fixado pelo governo para cada unidade, que pode variar de R$ 38 mil a R$ 52 mil, dependendo da cidade.

Gerdau trabalhou na empresa da família por quase 30 anos na área de marketing, vendas e planejamento. Saiu em 2002 na grande reestruturação operacional da companhia. Além da Domus Populi, criou a Domus Urbanizadora, loteadora de alto padrão com um empreendimento no Rio Grande do Sul. Paralelamente, investiu em biotecnologia e minério de ferro.

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